Nota aos visitantes

27-10-2011 23:09

Tem-se discutido nos últimos anos a Educação Física Escolar numa perspectiva cultural, e é a partir deste referencial que se considera a Educação Física como parte da cultura humana, ou seja, práticas, ligadas ao corpo e ao movimento, criadas pelo homem ao longo de sua história. Ela  constitui-se numa área de conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de: jogos, ginásticas, lutas, danças e desportos. É nesse sentido que se tem falado atualmente de uma cultura corporal, ou cultura física, ou ainda, cultura de movimento.

Segundo Santin (1987), também se observa a presença de uma realidade estimuladora da competitividade entre os homens e, infelizmente, a Educação Física também se enquadra neste contexto, visto que hoje em dia parece assumir um caráter de treinamento ou adestramento do movimento corporal.

No entanto Barros Neto (1997), salienta que dentre os vários meios de desenvolver a Educação Física tem-se o desporto e ao contrário do que muitos pensam, a Educação Física escolar não deve ser totalmente dissociada do desporto, já que um de seus objetivos consiste em promover a socialização e interação entre seus alunos. A grande questão que se coloca a respeito do desporto na escola é que ele muitas vezes transfere para o aluno uma carga de responsabilidade muito alta quanto à obtenção de resultados, o que afeta a criança psicologicamente de uma forma negativa.

Desta maneira, as atividades desportivas, recreativas e rítmicas poderiam ser consideradas como meios mais eficazes para promover a socialização dos alunos, que a Educação Física escolar tanto apregoa, uma vez que normalmente são realizadas em grupos, os quais obedecem ao princípio da cooperação entre os seus componentes, estimulando assim a criança na sua apreciação do comportamento social, domínio de si mesmo, autocontrolo e respeito ao próximo. A Educação Física escolar consiste no estímulo a atividade criativa do aluno (BARROS e BARROS, 1972).

Ainda neste contexto, Gonçalves (1997) fala-nos da importância existente no facto de o professor proporcionar aos alunos movimentos portadores de um sentido para os mesmos, uma vez que, os movimentos mecânicos, realizados abstratamente só contribuem para a inibição da criação e da participação dos alunos em aula e, por consequência, os torna indivíduos que deixam de interpretar o mundo por si próprios e passam a interpretá-lo pela visão dos outros.

Também a Educação Física escolar consiste no desenvolvimento orgânico e funcional da criança, procurando, através de atividades físicas, melhorar os fatores de coordenação e execução de movimentos. Para atingir este objetivo, Barros e Barros (1972, p.16) referem:

as atividades como correr, saltar, arremessar, trepar, pendurar-se, equilibrar-se, levantar e transportar, puxar, empurrar, saltitar, girar, saltar à corda, permitem a descarga da agressividade, estimulam a auto-expressão, concorrem para a manutenção da saúde, favorecem o crescimento, previnem e corrigem os defeitos de atitudes e boa postura.

Assim fica claro a importância que o professor de Educação Física tem em proporcionar aos alunos atividades cuja caracterização permitam aos mesmos uma movimentação constante e de exploração máxima do ambiente. É evidente que estas atividades devem ser adequadas ao estado de desenvolvimento de cada criança para assim fazer com que os movimentos sejam próprios ao seu grau de desenvolvimento morfofisiológico, o que contribui de maneira significativa para o avanço orgânico e funcional dos alunos em cada etapa de sua vida escolar. Em torno disso é que se situa a grande discussão que se faz a respeito da Educação Física na atualidade, uma vez que muitos a vêem como um estímulo ao simples desenvolvimento físico através de gestos e movimentos padronizados, tirando assim o caráter educacional pertencente à Educação Física que visa atuar sobre a formação do caráter humano e contribuir para um maior rendimento do trabalho intelectual (BARROS E BARROS, 1972).

De Marco (1995 p. 77) salienta que a Educação Física também deve ser: “(...) um espaço educativo privilegiado para promover as relações interpessoais, a auto-estima e a autoconfiança, valorizando-se aquilo que cada indivíduo é capaz de fazer em função de suas possibilidades e limitações pessoais (...)”.

Já Freire (1991) atribui à Educação Física um papel de ensino de movimentos respeitando as individualidades da criança, o estímulo à liberdade e à criatividade individual. Neste contexto o professor assume um “personagem” o qual deve aplicar as atividades físicas por meio de exercícios de fácil execução, com graduação para cada idade e tendo em conta a evolução física e psíquica do aluno, dando-lhe liberdade para movimentar-se espontaneamente e da forma que desejar. Estes movimentos de caráter mais subjetivo e espontâneo caracterizam o que Kunz (1994) denomina de mundo fenomenológico dos movimentos o qual, em sua opinião, afastaria de vez uma provável limitação existente na “Educação Física mecanizada” e desta forma o proveito pedagógico que poderia se tirar do processo ensino-aprendizagem seria bem maior.

 A prática da Educação Física é importante, destacando a disponibilidade cognitiva e emocional dos alunos, para a aprendizagem, é fator essencial para que haja uma interação cooperativa, sem depreciação do colega por sua eventual falta de informação ou incompreensão. Aprender a conviver em grupo supõe um domínio progressivo de procedimentos, valores, normas e atitudes.

Desta forma, é indispensável à interação do indivíduo para que este possa integrar-se no grupo, com atitudes saudáveis valorizando hábitos na conquista da saúde do corpo e da mente.

Considera-se que a saúde é o estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença, no entanto esta se faz por meio da educação, da adoção de estilos de vida saudável, do desenvolvimento de aptidões, capacidades individuais e da produção de um ambiente saudável.

A educação transformadora é aquela que busca constantemente novas técnicas e metodologias que diversifiquem o trabalho grupal, inserindo o sujeito como parte principal desta ação e transformando nossa realidade, e para isso somos constantemente levados a repensar nossas ações e nossas práticas. Desta forma é preciso estar aberto aos avanços e mudanças que fazem parte do meio social onde a informação é o principal conteúdo desta nova sociedade construída através da convivência do ser humano, das relações estabelecidas e de uma boa qualidade de vida.

 

Fonte:

Marta Nascimento Marques*

Marília de Rosso Krug**